Tenho brigado comigo para passar batido no caso Eliana Tranchesi. Mas não consegui. Se por um lado, vejo o lado marginal da transação, todo o esquema traçado para viabilizar o contrabando, a corrupção gritante, por outro vem a pergunta que não quer calar. Mas como? 94 anos e meio de cadeia? Ainda tem este meio, de quebra, para completar.
Tenho lido jornais, revistas, sites e blogs, entrevistas com as mais expressivas autoridades em termos de direito e percebo a mesma perplexidade. 94 anos e meio, sendo que a pena máxima no Brasil é de 30. O que se esconde por detrás dessa pena gigante? Não significaria ela também um forte preconceito contra a área de moda?
A imagem que sempre tive de Eliana foi a de uma mulher aristocrata sim, pela sua própria estirpe, mas dinâmica, trabalhadeira. Uma mulher que herdou um negócio caseiro e soube levá-lo à frente, com sensibilidade fashion e tino comercial. E continuo achando que seu grande mal foi a
e-nor-me visibilidade que ganhou ao se transferir da casa da Vila Nova Conceição para o trilhardário endereço atual.
Sempre tenho a impressão que o brasileiro é avesso ao sucesso do outro. Tamanha visibilidade na inauguração da Vila Daslu gerou polêmica, sentimentos diversos, emoções contraditórias. Quando a TV aberta entra na casa de pessoas que ganham salário mínimo, ou nem isso, e mostra produtos com preços absurdos, é natural que algumas dela se indignem. A desigualdade é gritante. O desnível social abissal.
Porém, essas pessoas se esquecem que tamanho poderio movimenta o setor, a economia, a divulgação do país no exterior. Gera empregos em diversas áreas, atrai turismo, paga impostos que, por sua vez, geram bem-estar social (ou deveriam gerar).
Ôpa! Foi aí que a vaca foi para o brejo. Foi aí que os Tranchesi erraram feio.
Em um momento como esse, os mil empregos gerados pela maison, a creche que ela mantém para os filhos dos seus funcionários e todas as outras benesses caem por chão. Ninguém se lembra disso. Fica somente o ato marginal e palavras como contrabando, sonegação, crime.
Vamos ver como o caso evolui. Espero sinceramente que Eliana Tranchesi pague pelos seus abusos. Mas com justiça e imparcialidade.